Crônicas de Paulistano. #1

Paulistano é assim mesmo, reclama dos preços absurdos, porém ainda assim paga.
'$1,70 POR UMA COXINHA!? MÁ QUE PORRA CARA!'
Braveja um senhor nordestino em uma padoca da Vl Maria, dentre milhões de bravejadores, de milhares de padocas de esquina, com uma banca como vizinha.
Paga pelo Salgado, pelo pingado, folheia os clasificados porque os de esportes não lhe agradara.
'MÁ QUE MERDA! O CURINTIA SÓ ME FERRA!'

Paulistano é assim mesmo, conformado com o inconpreensivel.
Os problemas nunca começam por ele, mas sempre terminam no paulistano.
'COMO ASSIM?! EU NÃO ENTENDO! MAU CAI EU NA MARGINAL E JÁ TÁ INTRANSITAVEL!
KASSAB DE MERDA!'
Dito por hora o solitario dentro de seu carro ouvindo as noticias do trânsito,
ou o estagiario no busão lotado com seu iPode. Escrito assim mesmo. Comprado na Pajé.

Paulistano é assim mesmo, fala errado falando dos outros.
Vive na capital da cultura do país, e essa os falta.
'ÓIA SÓ COMO TÁ SUJA A SÃO JOÃO. MARDITA CACROLANDIA DUS INFERNO.
SÓ LÁ PERTO DE CASA QUE DÁ GOSTO DE ANDAR PELA PAES DE BARRO.'
Reflete uma senhora italiana, de família conceituada, que acabara de jogar pela janela afora do carro, a embalagem do biscoitinho de sua cadelinha castrada.

Paulistano é assim mesmo, frio como o bloco de concreto. O mesmo que reside.
Busca numa caminhada pela Pôr-do-Sol ou pelo Ibíra, o calor de um par de pernas.
Alvo visto, puxa assunto, ela resiste, acha afinidades, marca um esquema, pega e some.
'M!n@ diz:
pô, vc sumiu, ó! sexta vou lá na vl madá, nakele barzinho q vc disse frequentar '
(contato bloqueado-só desbloqueada quando não tiver outra garota pra transar)

Paulistano é assim mesmo, apressado pra ficar parado.
Vislumbra um feriado imendado, planeja e dá tudo errado.
'PUUTZ! MERDA DE CELULAR QUE DESPERTA NA HORA ERRADA!
AGORA TÔ ATRASADO E AINDA É DIA DO MEU RODIZIO!'
Pensa ao acordar depois de uma noite bohemia, jovem da Pompeia que possui seu próprio veículo. Se formará em advogado dentro em breve, mas odeia a idéia de ficar trancado em escritorios.

Paulistano é assim mesmo. Bicho estranho.
Individualistas em meio à multidões.
Narcisista nos espelhos dos carros e vitrines das ruas do Brás.
Descolados e Cults, dividindo as calçadas com prostitutas.
Egoistas de seu próprio tempo.
Falando em tempo... Deix'eu pegar este tremzão pra Leste, que demorou tanto a tempo de escrever esta 1º crônica. Uma de muitas que virão.

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